À mesa com Jamie Oliver

6 Maio

O jovem e despojado cozinheiro britânico Jamie Oliver foi uma das minhas primeiras inspirações gastronômicas. Minha série favorita na TV, sobre a Itália, fez-me comprar o livro A Itália de Jamie, que o mestre-cuca produziu a partir da viagem pelo maravilhoso país do mangiare bene. Depois, tentei dar uma de Jamie e escrevi meu próprio livro sobre os italianos e sua paixão pela comida: Ao gosto de Veneza, publicado em janeiro pela DBA. No último fim de semana, senti-me um pouco mais próxima do chef adorado – por mim e tantos outros mundo afora – ao visitar um de seus restaurantes espalhados pelo globo, o Fifteen de Amsterdã.

Era véspera do Dia da Rainha – em que toda a cidade dos canais e bicicletas fica laranja – quando fui ao restaurante. Além de amigos conterrâneos, contei com a companhia de um staff member – um jovem estudante holandês, ex-colega de um dos brasileiros e garçom no local há três anos. O Fifteen abriu suas portas em Amsterdã em 2004, com base no conceito do restaurante original, fundado por Jamie em Londres em 2002.

“Eu montei o Fifteen porque acredito que jovens tenham talentos inexplorados, frequentemente escondidos por problemas na vida doméstica. Esses talentos podem ser revelados através da paixão pela boa comida e pelo trabalho duro e significativo”, assim define Jamie a ideia do restaurante, que treina jovens para a profissão de chef.

Os holandeses Sarriel Taus e Coen Alewiinse entusiasmaram-se com a proposta de Jamie e conseguiram a aprovação do cozinheiro britânico para abrir o Fifteen de Amsterdã. Jamie assinou em grandes letras na parede do restaurante como sinal de seu comprometimento com o local. Em parceria com a fundação Kookdroom, a cada ano a unidade holandesa dá a jovens de baixa renda a oportunidade de estudarem a profissão de chef. Após 16 meses de teoria e prática na cozinha do Fifteen, o restaurante os auxilia, então, a conseguir emprego.

Apesar de o cardápio holandês não ser elaborado pelo próprio Jamie, vê-se claramente a sua influência sobre as preparações all’italiana. O menu – que muda a cada dois meses – é desenvolvido pelo chef Bastiaan Doesburg, com consulta do Fifteen londrino.

Para começar nossa experiência gastrônomica fifteeniana, como tira-gosto, comemos pão italiano com azeite de oliva, rolinhos de massa folhada e azeitonas verdes e pretas que me pareceram mais frescas do que o normal, tudo charmosamente servido sobre um pedaço de jornal.

Antes disso, por estar na companhia de um staff member, começamos a noite com uma taça de prosecco com xarope de blackberry e menta fresca, como cortesia. Depois, optamos por uma sequência de vinhos tintos, passando por montepulciano, bordeaux e encerrando com um delicioso branco e doce Muscat de Rivesaltes francês.

Como antipasto, escolhi lula recheada com uma pasta de tomate e manjericão, sobre uma cama de verduras. Não sei por que me lembraram o linguine con cozze di nonno – macarrão com mariscos – que Jamie aprendeu com um senhor de 98 anos da Costa Amalfitana durante a viagem que rendeu a série de TV e o livro sobre a Itália.

O primo piatto, proposto pelo chef, foi ravioli com recheio de gema de ovo e molho de manteiga e trufas negras raladas. Simples, mas gostoso – apesar de eu não ser fã de gema mole e achar que o gosto de trufa poderia ser mais acentuado.

Como prato principal, escolhi o peixe do dia, descrito no cardápio como “peixe ou frutos do mar que variam a cada dia, dependendo da estação e do que o pescador traz”. A surpresa foi boa: posta de bacalhau fresco com crosta de ervas, sobre funcho cozido e folhas.

A sobremesa, também uma incógnita vinda da cozinha – vazada e que pode ser observada de todo o salão, com belos lustres e paredes grafitadas – foi uma tábua de mini delícias. Torta de limão, sorvete de romã e a campeã panna cotta com calda de caramelo – para fechar a noite com o doce sabor de Amsterdã, Itália e Jamie Oliver. Até a próxima ou, como diriam os holandeses, tot de volgende!

Deixe um comentário