Almoço de domingo

12 Out

Foto: Luisa FreyQue coisa engraçada estar longe de casa, mas conseguir sentir o gosto de um almoço de domingo em família – feito por você. Hoje preparei uma das especialidades do meu pai: o Szegediner Gulasch, carinhosamente apelidado por ele de “Zéguedinha”.

Trata-se de um Gulasch (na grafia em alemão) incrementado com chucrute. Um prato pesado e ótimo para um dia frio.

As origens da iguaria húngara – também muito popular em países do leste e do centro da Europa, incluindo a Alemanha – remontam ao século 9°. Antes de partir com seus rebanhos, pastores húngaros faziam um guisado com pedaços de carne cozidos lentamente, cebola e outros temperos.

O preparado era, então, colocado para secar no sol e colocado em sacos feitos de estômago de ovelha. Ui! Pelo menos é o que diz a Encyclopædia Britannica. Quando sentiam fome no caminho, os pastores adicionavam água a uma porção do guisado e o requentavam. Prático, não? Uma espécie de precursor das sopas enlatadas.

Foto; Luisa FreyHoje, ao pensarmos num Gulyás (em húngaro) – ou goulash, em inglês –, logo nos vem à cabeça a páprica. O ingrediente que dá ao prato sua típica cor alaranjada passou a fazer parte da receita no século 18.

A versão clássica do Gulyás se parece mais com uma sopa – que na Alemanha é conhecida como Gulaschsuppe – e leva cubos de carne bovina ou de carneiro, alho, sementes de cominho, tomates, pimentão e batata.

Para os alemães, o Gulasch equivale ao que os húngaros chamam de Pörkölt ou Paprikás – que são mais densos do que o Gulyás. Enquanto o primeiro leva carne, páprica e vegetais , o segundo, leva também creme de leite – e, ao contrário do que o nome sugere, não inclui mais páprica do que as outras versões do prato.

O creme de leite também é essencial – e faz lembrar um estrogonofe – ao “Zéguedinha” (para os íntimos). Em húngaro, a receita com chucrute chama-se Székely gulyás. Seria uma homenagem ao escritor e jornalista József Székely (1825–1895), que teria inspirado a sua criação, segundo o famoso cozinheiro húngaro Gundel Károly, que viveu até meados do século 20.

Enfim, o Szegediner Gulasch é hoje muito popular na Europa e, assim, chegou à minha família por suas raízes germânicas. Meu pai aprendeu a preparar o prato com a tia-avó, mas deu a ele seu toque especial: o catchup. O condimento faz parte de quase todos os molhos que ele prepara – e os deixa incrivelmente bons! Também não pode faltar um pouco de vinho branco. O resto da receita eu mantenho como segredo de família, mas deixo aqui uma alternativa publicada no The New York Times.

Foto: Luisa FreyO acompanhamento pode ser batata cozida, purê ou Spätzle – massa típica da Alemanha, algo entre macarrão e nhoque. Para faclitar a vida dos cozinheiros de fim de semana, há uma invenção incrível que adquiri há algum tempo: o Spätzle Shaker! Basta colocar água, ovos, farinha e sal na altura mostrada no copo, chacoalhar, e espremer (através da tampa com furinhos) sobre a panela com água fervente. Adoro!

A família não estava toda presente, mas pelo menos foi um domingo com o Zéguedinha entre nós.

4 Respostas to “Almoço de domingo”

  1. Cristina 12 de Outubro de 2014 às 18:51 #

    Um oceano e muitos quilômetros de distância, mas um prato em comum. Parece que estávamos todos juntos. 🙂

  2. gd 14 de Outubro de 2014 às 4:08 #

    Ainda não conheço o gulasch, mas provei a versão húngara do goulash quando em Budapeste e a versão tcheca inúmeras vezes em Praga. Ambas são consideravelmente “pesadas”, mais adequadas ao inverno do que ao verão, mas igualmente deliciosas. Seu artigo me deixou com água na boca.

  3. gd 14 de Outubro de 2014 às 4:08 #

    Ainda não conheço o gulasch, mas provei a versão húngara do goulash quando em Budapeste e a versão tcheca inúmeras vezes em Praga. Ambas são consideravelmente “pesadas”, mais adequadas ao inverno do que ao verão, mas igualmente deliciosas. Seu artigo me deixou com água na boca.

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