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Mania de ruibarbo

26 Jul

Se não fosse meu pai, acho que eu não teria ouvido falar no ruibarbo. Há alguns anos, ele – agrônomo e gourmet – contrabandeou um vaso da planta para o Brasil (na mala!). A muda não sobreviveu por muito tempo em solo brasileiro, mas o suficiente para cozinharmos seus grossos caules rosa-esverdeados com açúcar uma vez. A compota, cor-de-rosa e com algumas fibras dos talos conservadas, tinha um sabor levemente azedo e inesquecível.

Quando cheguei à Alemanha, logo vi os caules de Rhabarber à venda nos supermercados e feiras, mas não sabia que a temporada estava acabando (vai de abril a junho) e perdi a chance de comprá-lo para preparar eu mesmo a compota (basta cozinhar os pedaços de caule com água e açúcar). A partir daí, comecei a minha busca por produtos à base do ingrediente.

Primeiro, vieram os iogurtes, em que é difícil achar a planta como protagonista: de ruibarbo com morango, ruibarbo com framboesa, ruibarbo com baunilha. Na padaria, comprei um Rhabarber-Erdbeer-Schnitte (foto abaixo), um pedaço de bolo de tabuleiro coberto de morango, pedaços de ruibarbo, farofa e açúcar cristal – parecido com a cuca que encontramos no sul do Brasil, mas mais molhadinho.

Também provei um Rhabarberschorle (suco de ruibarbo com água com gás) e, em Dublin, um rhubarb crème brûlée – com os pedacinhos de talo cor-de-rosa escondidos embaixo do creme e da crosta de açúcar. Teve ainda o cremosíssimo sorvete de ruibarbo que tomei na Berthillon, a melhor sorveteria de Paris.

Apreciado não somente na Europa, mas também nos Estados Unidos, o ruibarbo também pode ser servido como compota sobre sorvetes, pudins ou waffles; consumido como geleia; e utilizado em inúmeras receitas de bolos e tortas. Jamie Oliver propõe, além da compota com iogurte, uma pannacotta com ruibarbo assado e um suflê de dar água na boca.

Aliás, a terra do Jamie, a Grã-Bretanha, é o lugar que mais produz e que consome a maior quantidade de ruibarbo no mundo. Foi lá que a planta começou a ser ingerida como alimento, no século XIII. Muito antes disso, já era utilizada como fitoterápico, principalmente na medicina chinesa.

Ainda hoje, o ruibarbo tem suas propriedades digestiva, estimulante do fígado, estomáquica, laxante ou antidiarreica (dependendo da dose) reconhecidas. E descobri que apenas os caules são comestíveis, pois as folhas têm forte concentração de ácido oxálico, nefrotóxico e corrosivo.

Voltando à Alemanha, segundo o site gartentechnik.de, há cerca de 600 hectares de plantação de Rhababer no país, quase um quarto deles no estado da Renânia do Norte-Vestfália. Já no Brasil, a planta é praticamente desconhecida. O blog Prato Fundo indica a Casa Santa Luzia, em São Paulo, para comprar o produto. A semente pode ser encomendada à Agristar.

Depois dessas incursões no maravilhoso mundo do ruibarbo, consegui entender por que meu pai chegou ao cúmulo de colocar uma muda na mala. E, agora que peguei a mania do talo azedinho e cor-de-rosa, quem sabe eu faça o mesmo na próxima viagem.