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Strawberry fields forever

2 Jun

Foto: Celso de Castro Rondon Filho

Há tempos eu sonhava em colher morangos. Quando criança, lembro de uma amiga contar que tinha vindo visitar a avó na Alemanha, e a colheita fez parte da programação das férias. Desde que mudei para o país, há três anos, eu queria ter essa experiência. Finalmente consegui agendar o programa durante a temporada da fruta – e foi ainda melhor do que eu imaginava!

No primeiro domingo de junho, ensolarado e com temperatura amena, levantamos cedinho e preparamos nossa vasilha. O destino escolhido para a “aventura” foi o Burg Niederpleis, a cerca de 15 quilômetros do centro de Bonn, em Sankt Augustin.

A poucos passos de uma estradinha, passada a plantação de pinheiros que crescem rumo ao Natal, vê-se a casa da fazenda, onde é possível comprar os produtos locais fresquinhos. E atrás da casa, estava o que procurávamos: um campo de morangos impecável.

Primeiro, pesamos nossa vasilha vazia numa barraquinha em formato de morango gigante, onde se vende a fruta para os não tão entusiastas da colheita. Depois, um funcionário simpático nos recebeu à beira da plantação e, como tudo na Alemanha é muito organizado, nos disse em qual fileira deveríamos colher nossos morangos.

Um mais lindo do que o outro, eles pendiam dos arbustos rasteiros. Todos inteirinhos, vermelhíssimos e deliciosamente doces – afinal, quem resiste a provar um ali na hora?

De início, havia apenas uma avó com um netinho, que se empolgou ao encontrar “o maior morango do mundo”. Logo foram chegando mais famílias, com suas vasilhas e baldes. Muitas têm o costume de preparar geleias para o restante do ano.

Decidi limitar-me a um pote pequeno – acho que já me arrependi – e levei cerca de um quilo, pela bagatela de pouco mais de três euros. E, já que estava ali, por que não comprar aspargos fresquinhos, o outro destaque desta temporada? Um maço de aspargos não selecionados – não tão grossos e alguns tortinhos – custa apenas dois euros. A vendedora perguntou se eu não gostaria de levar dois, um por pessoa, mas achei que seria demais. Mas quando eles estavam cozidos e envoltos por presunto deixaram um gostinho de quero mais. Na loja da fazenda, meu trabalho na cozinha havia sido facilitado por uma máquina descascadora de aspargos, que lembra um lavarrápido.

Mas o destaque do dia foram mesmo os morangos, os mais doces que já comi. Nem tive coragem de cozinhá-los ou acrescentar açúcar. Mas com iogurte de baunilha ficaram divinos! Acho que terei de voltar à fazenda ou descobrir outra da região antes do fim desta temporada, que vai de abril a fim de junho.

Além do Burg Niederpleis, muitas fazendas próximas às cidades oferecem a possibilidade de “selbstpflücken” (“colha você mesmo”) aqui na Alemanha, o que torna a experiência de comer morangos ainda mais prazerosa do que de costume.

Foto: Luisa FreyFoto: Luisa FreyFoto: Luisa FreyFoto: Luisa FreyFoto: Luisa Frey

 

Alquimia etílica produz novidades no Natal alemão

24 Dez

Foto: Philip Verminnen

Lambada, After Eight, Hot Mexican. O reinado do Glühwein chegou ao fim nos cerca de 2500 mercados de Natal alemães. Apesar do vinho quente com especiarias ainda desempenhar o papel principal na temporada natalina, ele está rodeado de uma ampla variedade de bebidas. No mercado de Natal de Bonn, no oeste do país, a cada ano a oferta fica maior, mais criativa e mais internacional.

“O Glühwein pode perder a graça. As pessoas querem sempre provar algo novo”, diz Otto Barth. Sua família administra uma barraca de Glühwein no mercado de Natal de Bonn há 30 anos. No início, havia apenas vinho quente, mais tarde, o Eierpunsch (ponche de licor de ovo) entrou para o cardápio. Hoje o cliente pode escolher entre mais de 50 bebidas, quando incluídas todas as misturas e variações possíveis.

Foto: Philip Verminnen

Em 2012, a barraca Otto Barth’s Glühweintreff ofereceu duas novidades. Vinho quente e tequila encontram-se no Hot Mexican. E há ainda o Gummibärchenpunsch, feito com as famosas balinhas de ursinho da marca Haribo – natural de Bonn.

Os ursinhos coloridos fincados em um palito  logo derretem na bebida – verde por causa do Waldmeistersirup (xarope da planta aspérula). Apesar das balinhas, a novidade não é para crianças: além do vinho branco quente, a bebida leva uma dose de vodca.

“O Gummibärchenpunsch teve uma ótima aceitação”, conta Otto. “Mantemos a receita em segredo. Mas se os concorrentes tentarem imitá-la no ano que vem, é sinal de que fizemos algo de bom.”

Em uma barraca próxima dali, a moda é a Glühbier, diz a gerente Berbel Barth, prima de Otto. A Kirschbier (cerveja de cereja) belga quente é vendida em Bonn há cinco anos, exclusivamente na barraca “sem nome”.

Foto: Philip Verminnen

A cerveja cor de vinho tem sabor mais suave que o do Glühwein, e é servida em um típico copo de cerveja belga, com espuma e a 70ºC.

Em sua barraca, Berbel também apresentou duas novidades em 2012. Hot Hugo, “a moda do verão em versão invernal”, combina menta, limão, Holunder-blütersirup (xarope de flores de sabugueiro) e vinho branco. O aroma e o sabor são agridoces.

Foto: Philip Verminnen

A outra criação chama-se Lila Hirsch e tem uma origem curiosa. “Percebemos que faltava algo lilás em nosso cardápio”, diz Berbel sobre a bebida de vinho branco quente e xarope de cassis.

Há alguns anos, o licor de Spekulatius também figura no mercado de Natal de Bonn. A bebida densa contém canela, cravos, cardamomo e outras especiarias. Assim, ele tem gosto dos biscoitos típicos não apenas na Alemanha, mas também na Holanda e na Bélgica. O licor é bebido puro ou com chocolate quente. Delicioso!

O chocolate quente está particularmente na moda. Lumumba, batizado em homenagem ao político congolense Patrice Lumumba, é composto de chocolate e uma dose alcoólica: rum, licor espanhol 43, Baileys irlandês. Lambada é chocolate quente com Amaretto. O Russische Schokolade é feito com vodca. O After Eight combina chocolate quente com licor de menta e chantilly.

Foto: Luisa Frey

Em meio a tanta criatividade e ingredientes estrangeiros, ainda existem bebidas natalinas alemãs tradicionais? Berbel argumenta que as batatas, por exemplo, não eram típicas do país antigamente.

“O mundo e a população estão cada vez mais internacionais. É muito bom que haja algo para todos os gostos”, diz. “O Glühwein continua tradicional, mas os alemães gostam muito de experimentar”, completa Otto.

Os mercados de Natal alemães vão do final de novembro até o Natal. Estão presentes em todo o país. Entre os mais famosos, estão o de Nüremberg, Dresden, Aachen e Colônia. Nas imediações de Bonn, vale a pena conferir o mercado medieval de Siegburg.

Gewürztraminer, o vinho ‘temperado’ da Alsácia

5 Ago

Entre tinto e branco, costumo escolher branco. Entre seco e suave, suave ou demi-sec. E até pouco tempo atrás, eu achava que Riesling era meu vinho favorito. Mas mudei de opinião após uma viagem pela Alsácia, encantadora região francesa na fronteira com a Alemanha. Foi ali que provei o Gewürztraminer, que entrou para o topo da minha lista de melhores vinhos.

De cor amarelo-dourado, o Gewürztraminer é famoso por seu aroma excepcional – frutado (com notas de lichia, por exemplo), florado e toques de especiarias, como canela e gengibre. O nome da uva homônima que dá origem ao vinho suave, originária da Alsácia, é um indício do toque picante. Em alemão, Gewürz significa tempero.

A uva rosada é originária da Alemanha e continua a ser cultivada à beira do rio Reno e também na região de Trentino-Alto Adige – no nordeste da Itália –, no Chile, na África do Sul, Austrália, Nova Zelândia e Estados Unidos. Mas é na Alsácia, que antes pertencia ao país da cerveja e do Riesling, que a Gewürztraminer rende seus melhores frutos.

Na capital alsaciana, Estrasburgo, o vinho pode ser apreciado em um restaurante de estilo enxaimel no bairro Petite France, na companhia da especialidade regional Flammkuchen (ou tarté flambée, em francês) – espécie de pizza bem fina e quadrada com cobertura tradicional de crème fraîche, cebola e bacon. Ou, então, experimente uma taça com um prato de chucrute, linguiça e carne de porco ou um típico baeckoffe (“forno do padeiro”, em dialeto alsaciano) – batatas, cebolas, cenouras, carne de carneiro, boi e porco, marinadas em vinho branco e zimbro e cozidas durante várias horas em uma caçarola de cerâmica.

Na verdade, porém, o Gewürztraminer costuma ser indicado como aperitivo ou na harmonização com pratos apimentados (como os das culinárias mexicana e indiana), sobremesas ou queijos fortes como o munster alsaciano – de vaca e consistência semelhante à do brie.

Seguindo de Estrasburgo para Colmar, mais ao sul, percorre-se a rota dos vinhos da Alsácia. Um após o outro, passa-se por pequenos vilerejos, com estilo meio francês, meio alemão – como Obernai. As margens das estradinhas sinuosas entre eles são repletas de parreirais e, de tempos em tempos, há um produtor onde se pode degustar e comprar Gewürztraminer e as outras variedades produzidas na região: Sylvaner, Riesling, Pinot Blanc, Pinot Noir, Pinot Gris e  Muscat.

Na pequena – e quase deserta em um sábado na hora do almoço – Mittelbergheim, tocamos a campainha e um viticultor nos abriu a porta da adega da vinícola Domaine Armand Gilg. Degustei e mais do que aprovei um Gewürztraminer de 2010 – medalha de ouro no Grande Concurso de Vinhos da Alsácia 2011, em Colmar. Pela bagatela de 7,70 euros, trouxe uma garrafa para casa. E ainda não tive coragem de abri-la.

Apfelstrudel

4 Mar

Maçãs e passas quentinhas, envoltas por uma crosta de massa folhada crocante e polvilhada de açúcar de confeiteiro, com uma bola de sorvete de baunilha semiderretida ou chantilly levemente adoçado. Simples, clássico e delicioso.

Apfelstrudel figura em grande parte dos menus austríacos e alemães, como sobremesa em restaurantes ou para o café da tarde em confeitarias. Neste caso, o doce pode vir acompanhado de um café quentinho no inverno ou, no verão, do apreciado Eiskaffee – café com leite batido com sorvete de baunilha e um toque de chantilly. Degustei a combinação em Salzburg, na Áustria, que ficou ainda mais divina nos jardins do castelo Mirabell (foto).

De acordo com o dicionário gastronômico epicurious.com, além da Alemanha e da Áustria – em cujo império a iguaria nasceu –, o strudel é bastante popular na Europa central. A massa finíssima do strudel é semelhante à massa phyllo e é igualmente difícil de trabalhar.

O Apfelstrudel é provavelmente a variação mais conhecida da receita, mas as possibilidades de recheios são ilimitadas. Podem ser doces – como o Mohnstrudel (recheio de sementes de papoula) – ou salgados – como o Krautstrudel (recheio de repolho).

O livro Food Journeys of a Lifetime, da National Geographic, indica, ao lado da famosa Sachertorte, o Apfelstrudel como quitute indispensável a ser degustado nas confeitarias de Viena – como o Café Demel, por exemplo. Um Apfelstrudel feito em casa também é uma boa e simples pedida para uma tarde de domingo.

Encontrei esta receita bem simples de Apfelstrudel, do Olivier Anquier:

Ingredientes:

200 g de massa folhada
4 maçãs em cubos
3 colheres (sopa) de açúcar
1 colher (chá) de canela
1 pitada de noz-moscada
Suco de meio limão
3 colheres (sopa) de nozes picadas
1 colher (sopa) de uvas passas demolhadas
1 ovo misturado com um pouco de água (para pincelar)

Modo de preparo:

Abra a massa num retângulo e coloque sobre uma assadeira grande previamente untada. Misture todos os ingredientes para o recheio, coloque no centro da massa, corte as sobras laterais, e guarde em geladeira. Passe água com um pincel na borda da massa, dobre as duas bordas da massa sobre o recheio e feche as pontas, dobrando-as para baixo. Pincele com o ovo e leve ao forno pré-aquecido a 150°C por 30 minutos.

Cheiro de Natal na Alemanha

19 Dez

Não sei se em algum lugar do mundo o clima de Natal é tão intenso como na Alemanha. Ele inclui a decoração; as músicas; os domingos de Advento; o dia de São Nicolau e a tradicional bota cheia de doces; e os lindos mercados de Natal, que, desde o fim de novembro, trazem às praças das cidades a magia natalina e o perfume de amêndoas caramelizadas e do Glühwein – vinho quente com especiarias.

Folheando uma revista feminina alemã, deparei-me com um artigo que falava sobre como manter a forma nesta época do ano. A dica era: “não vá para o Weinachtsmarkt (mercado de Natal) com fome!”. Mas, com ou sem fome, é difícil resistir às delícias distribuídas entre as barracas de velas, enfeites, bijouterias, gorros, luvas e cachecóis.

Em Bonn, o mercado fica na Münsterplatz e, aberto de segunda a segunda, está sempre cheio. Os dias são frios, e o Glühwein é um dos maiores atrativos. Cada barraca  tem a própria caneca com motivos natalinos, pela qual se paga de 2 a 2,50 euros – o chamado Pfand – além dos 2 euros da bebida. Depois, o freguês decide se pega o dinheiro de volta ou leva o recipiente para casa como lembrança.

Por aqui, provei um Szegediner Gulasch – receita húngara de guisado de carne com chucrute e páprica – igualzinho ao que meu pai prepara de domingo. Essa versão vem dentro de um pão escuro, redondo e quentinho. Também me deliciei com wafel belga coberto com calda de cereja e chantilly – eu queria sem o creme, mas o vendedor me convenceu de que era essencial por “esquentar os pés”.

Por enquanto, deixei passar as tradicionais salsichas no pão, Reibekuchen mit Apfelmus (panqueca de batata com purê de maçã), peixe empanado e frito, castanhas assadas, Germknödel  um bolinho (que de “inho” não tem nada!) tradicional da Baviera e da Áustria, feito de farinha, cozido e coberto com manteiga, calda de baunilha ou de cereja  –, além de outras guloseimas.

Variações sobre o mesmo tema

A vizinha cidade de Colônia é famosa por seus Weinachtsmärkte. De seus seis mercados, o maior é o ao lado da Kölner Dom a mais imponente catedral gótica do mundo –, que atrai 5 milhões de visitantes a cada ano. Por ali, comi Flammkuchen especialidade da Alsácia popular por aqui que consiste de uma espécie de pizza com a massa bem fininha e coberta tradicionalmente por cebola, bacon e nata. Também há uma encantadora barraca tirolesa, em que seus animados e dançantes funcionários me serviram um strudel de chucrute e um dos melhores Apfelstrudels que já comi, bem quentinho e com calda de baunilha.

Entre Bonn e Colônia fica a pequena Siegburg, com cerca de 40 mil habitantes. A cidade abriga um dos mercados natalinos mais curiosos do país: um Weinachtsmarkt medieval. No centro da praça, um ferreiro barbado e vestido com um avental de couro rústico e tamancos de madeira molda um instrumento. Perto dali, crianças divertem-se no carrossel, com javalis e cavalinhos de madeira movidos à manivela. Ao perguntar pelos preços, além de um sorriso, recebe-se dos vendedores vestidos à caráter uma resposta em dialeto da Idade Média: “ein Silberling, bitte” (um euro, por favor).

Como relatou a colega Nádia Pontes na Folha de São Paulo, o mercado de Siegburg é organizado pela sociedade Kramer Zunft und Kurtzweyl, que congrega estudiosos e simpatizantes do espírito de vida medieval. Além das vestimentas e da iluminação toda à luz de velas, as comidas também são particulares, algumas bem diferentes dos demais mercados natalinos.

Uma das barracas vende arroz com especiarias e verduras, servido na casca de repolho. A de doces remete à Turquia, oferecendo quitutes de nozes, damasco, figo. As bebidas quentes também são originais por ali. O Wikingerbluth (sangue de Viking) é uma espécie de Glühwein com cereja. Já o Heiβer Meth é semelhante ao servido em outros  Weinachtsmärkte, mas o nome de seu ingrediente, um vinho de mel, está em dialeto (Meth em vez de Met). As tendas de rodelas de maçã empanadas e fritas e de pão – assado em forno de pedra– também formam filas.

Outras delícias natalinas

De família alemã, sempre tive Natais recheados de guloseimas germânicas. Quando criança, adorava colocar a mão na massa e preparar com a minha avó fornadas de Spekulatius (tradicionais biscoitos de especiarias), Lebkuchen (pão de mel), Vanillekipferln (biscoitinhos de baunilha e amêndoas). Também se comprava Stolen (bolo natalino com frutas) recheado de marzipã e Zimtsterne (estrelinhas à base de amêndoas e canela e cobertas de glacê).

Nos Weinachtsmärkte, fiquei admirada com os biscoitos decorados principalmente os grandes e em formato de coração presentes em todas as festas populares por aqui, com mensagens como “Frohe Weinachten” (“Feliz Natal”) e “Ich liebe dich”   (“Eu te amo”). Também me deliciei com as amêndoas caramelizadas, uma fatia de Stolen de Mohn (papoula) e Kokosmakrone (doce de coco ralado e ovo). Vendem-se ainda guloseimas populares mundo afora, como algodão doce e maça do amor.

Além dos Weinachtsmärkte, os supermercados alemães também ficam repletos de quitutes natalinos. Algo encantador são os calendários de Advento gulosos: de papelão decorado, com “janelinhas” para os dias de dezembro até o Natal, cada uma delas com um chocolate de formato diferente como sino, Papai Noel, anjinho. Os Spekulatius, Lebkuchen e Zimtsterne industrializados são diferentes dos caseiros, é claro, mas os acho gostosos e incrivelmente baratos.

Foi no supermercado que descobri uma genialidade inventada em Dresden em 1936. O chocolatier Herbert Wendler criou os Dominosteine  combinação perfeita de uma camada de Lebkuchen, uma de geléia de damasco e outra de marzipã, cobertas de chocolate. Os quadradinhos do Herr Wendler conquistaram a Alemanha, principalmente na época de Natal.

Deixo abaixo uma receita dos biscoitos Vanillekipferln, traduzida e adaptada do livro Kekse (Naumann & Göbel).

Frohe Weinachten!

Vanillekipferln

Ingredientes (para cerca de 140 unidades):

300g de farinha de trigo
140g de açúcar
1 pitada de sal
4 gemas
1 vagem de baunilha ou 1 colher de chá de essência de baunilha
300g de amêndoas
300g de manteiga
200g de açúcar
Açúcar de baunilha para polvilhar

Modo de preparo:

Peneirar a farinha sobre uma superfície de trabalho. Em um buraco no meio da farinha, despejar o açúcar, o sal, a gema, e a baunilha. Distribuir as amêndoas moídas e a manteiga em flocos sobre a borda de farinha. Misturar todos os ingredientes e trabalhar a massa até ficar homogênea. Formar quatro rolos de cerca de 35 cm de comprimento e colocá-los na geladeira por 30 minutos.

Untar e enfarinhar a forma e cobri-la com papel-manteiga. Pré-aquecer o forno a 180°C. Cortar de 30 a 35 fatias de cada rolo de massa. Fazer um rolinho a partir de cada fatia e formar uma meia-lua. Distribuir os biscoitos sobre a forma, deixando uma distância entre eles. Assar por 10 a 15 minutos, até que as bordas estejam levemente douradas. Misturar o açúcar comum com o de baunilha. Passar os biscoitos ainda quentes na mistura.

Sopa de verão

1 Dez

Como o calor está chegando ao Brasil, decidi postar sobre uma delícia que provei no verão alemão: sopa fria de pepino e iogurte. Pode parecer estranha, mas não há nada mais refrescante e leve para dias quentes – e os restaurantes  germânicos sabem bem disso.

A primeira vez que provei a sopa, ela veio acompanhada – além do verdinho Dill (endro) – de Matjeshering. Trata-se das fêmeas de arenque pescadas no Mar do Norte antes de seu período de reprodução, do final de maio ao início de junho. Os Matjes são muito apreciados – crus e em salmoura – pois, nesse estágio, contêm uma alta taxa de gordura (mais de 15%).

Encontrei em um livreto só de sopas que comprei por um euro (Suppen, Nauman & Gobel ) uma receita mais adequada aos ingredientes disponíveis no Brasil: em vez dos Matjes utiliza salmão defumado (foto). Como sou fã de peixe de todas as maneiras, testei e aprovei a preparação. Segue a receita traduzida e adaptada.

Ingredientes: 

1 cebola pequena
1 pepino grande
sal
250 g de iogurte natural
1 pitada de açúcar
pimenta do reino
1 colher de sopa de suco de limão
1/2 maço de endro picado (substitua por salsinha, se preferir)
100 g de salmão defumado

Preparo:

Cortar a cebola em rodelas finas. Descascar o pepino, cortar ao meio de comprido, tirar as sementes e cortar em pequenos cubos. Polvilhá-los com sal, deixar descansar e descartar a água liberada.

Mexer o iogurte em uma tigela até ficar liso. Acrescentar os cubos de pepino, as rodelas de cebola e o restante dos ingredientes – com exceção do salmão. Cortar o peixe em tiras e guarnecer a sopa.

Rendimento: 1-2 porções grandes ou 4 pequenas

Guten Appetit!

Mania de ruibarbo

26 Jul

Se não fosse meu pai, acho que eu não teria ouvido falar no ruibarbo. Há alguns anos, ele – agrônomo e gourmet – contrabandeou um vaso da planta para o Brasil (na mala!). A muda não sobreviveu por muito tempo em solo brasileiro, mas o suficiente para cozinharmos seus grossos caules rosa-esverdeados com açúcar uma vez. A compota, cor-de-rosa e com algumas fibras dos talos conservadas, tinha um sabor levemente azedo e inesquecível.

Quando cheguei à Alemanha, logo vi os caules de Rhabarber à venda nos supermercados e feiras, mas não sabia que a temporada estava acabando (vai de abril a junho) e perdi a chance de comprá-lo para preparar eu mesmo a compota (basta cozinhar os pedaços de caule com água e açúcar). A partir daí, comecei a minha busca por produtos à base do ingrediente.

Primeiro, vieram os iogurtes, em que é difícil achar a planta como protagonista: de ruibarbo com morango, ruibarbo com framboesa, ruibarbo com baunilha. Na padaria, comprei um Rhabarber-Erdbeer-Schnitte (foto abaixo), um pedaço de bolo de tabuleiro coberto de morango, pedaços de ruibarbo, farofa e açúcar cristal – parecido com a cuca que encontramos no sul do Brasil, mas mais molhadinho.

Também provei um Rhabarberschorle (suco de ruibarbo com água com gás) e, em Dublin, um rhubarb crème brûlée – com os pedacinhos de talo cor-de-rosa escondidos embaixo do creme e da crosta de açúcar. Teve ainda o cremosíssimo sorvete de ruibarbo que tomei na Berthillon, a melhor sorveteria de Paris.

Apreciado não somente na Europa, mas também nos Estados Unidos, o ruibarbo também pode ser servido como compota sobre sorvetes, pudins ou waffles; consumido como geleia; e utilizado em inúmeras receitas de bolos e tortas. Jamie Oliver propõe, além da compota com iogurte, uma pannacotta com ruibarbo assado e um suflê de dar água na boca.

Aliás, a terra do Jamie, a Grã-Bretanha, é o lugar que mais produz e que consome a maior quantidade de ruibarbo no mundo. Foi lá que a planta começou a ser ingerida como alimento, no século XIII. Muito antes disso, já era utilizada como fitoterápico, principalmente na medicina chinesa.

Ainda hoje, o ruibarbo tem suas propriedades digestiva, estimulante do fígado, estomáquica, laxante ou antidiarreica (dependendo da dose) reconhecidas. E descobri que apenas os caules são comestíveis, pois as folhas têm forte concentração de ácido oxálico, nefrotóxico e corrosivo.

Voltando à Alemanha, segundo o site gartentechnik.de, há cerca de 600 hectares de plantação de Rhababer no país, quase um quarto deles no estado da Renânia do Norte-Vestfália. Já no Brasil, a planta é praticamente desconhecida. O blog Prato Fundo indica a Casa Santa Luzia, em São Paulo, para comprar o produto. A semente pode ser encomendada à Agristar.

Depois dessas incursões no maravilhoso mundo do ruibarbo, consegui entender por que meu pai chegou ao cúmulo de colocar uma muda na mala. E, agora que peguei a mania do talo azedinho e cor-de-rosa, quem sabe eu faça o mesmo na próxima viagem.

É tempo de aspargos na Alemanha

19 Jun

Adoro o valor que as pessoas dão para a sazonalidade na Europa. O verão se aproxima e os mercados e barracas espalhadas pelas ruas alemãs exibem morangos bem vermelhos, cerejas graúdas e vistosos aspargos frescos, que chamam a atenção por serem impressionantemente grossos.

Em casa, todo alemão que se preze tem um descascador específico para o vegetal. O produto também figura nos restaurantes, que incluem em seus cardápios pratos exclusivos desta época do ano, muitas vezes anunciados na porta com os dizeres “Frischer Spargel” (“aspargo fresco”).

Um dos pratos simples e tradicionais dos menus e também das donas de casa são aspargos cozidos (apesar de o gosto dos frescos ser muito melhor, no Brasil, você pode fazer com os em conserva) com molho holandês – à base de manteiga e gema –, batatas ou Pfannkuchen (panquecas) e presunto – geralmente um curado, como o Schwarzwälder. No livro Spargel, a autora Cornelia Schinharl também sugere o San Daniele italiano ou o Serrano espanhol.

Na combinação, também vai bem um bom presunto cozido, como o do prato da foto acima, que comi no ano passado, na Stadtfest de Mannheim. É uma espécie de feira da cidade, com palcos musicais e barracas de comida e cerveja, é claro.

A festa de Mannheim, no estado de Baden-Württemberg, acontece sempre em maio, mesmo mês em cujo primeiro sábado realiza-se a Spargelfest, na vizinha cidade de Schwetzingen. Trata-se de um festival com música, dança e desfiles em homenagem ao Königliche Gemüse (vegetal real), que antigamente era comido exclusivamente pelo rei.

A Spargelfest marca o auge da temporada de aspargos, que vai de abril a junho, período em que, de acordo com o livro Food Journeys of a Lifetime, da National Geographic, cerca de 70 mil toneladas da iguaria são devoradas. As maiores regiões produtoras são Baden-Württemberg e a Baixa Saxônia. Mas Schwetzingen se auto proclama “a capital mundial do aspargo”. E com razão.

Foi ali, na cidade que hoje tem pouco mais de 20 mil habitantes, que começou a mania dos aspargos brancos – mais doces que os verdes, cultivados em solos arenosos e protegidos da luz solar. No século XVII, Schwetzingen abrigava a residência de verão do príncipe-eleitor Karl Theodor, “conhecido como o primeiro a cultivar o vegetal no solo leve e arenoso dos jardins de seu palácio”, segundo o livro da National Geographic.

Para cozinhar aspargos brancos, uma dica é amarrá-los, já descascados, em um feixe e colocá-los de pé em uma panela funda com água salgada cobrindo cerca de três quartos dos talos. Então, basta fervê-los por 10 a 20 minutos.

A temporada de aspargos alemã acaba tradicionalmente no dia 24 de junho, o Johannistag (Dia de São João), quando os últimos talos são vendidos. Leve e excelente quando harmonizado com vinho branco, esse delicado vegetal é versátil, podendo ser utilizado em saladas, sopas, risotos e inúmeras outras receitas. Além disso, é pouco calórico e contém vitaminas C, E, A e algumas do complexo B, além dos minerais cálcio, fósforo e magnésio.

Confira algumas receitas com aspargos:

Jamie Oliver: Aspargos brancos com hortelã e manteiga de limão
Nigella: Tagliatelle com presunto e aspargos
Panelinha: Creme de aspargos frescos