Estes dias, pulou na minha timeline do Facebook o ranking das melhores sorveterias da Alemanha, segundo usuários do Tripadvisor. Para minha surpresa, o local favorito do público fica pertinho de casa: a Eislabor, em Bonn. Eu já conhecia a sorveteria e sua reputação, mas o prêmio e os dias de calor me estimularam a visitar o pequeno “laboratório do sorvete”, como diz o nome em alemão, várias vezes nas últimas semanas.
Num sábado de sol, a fila começava a vários metros da entrada da sorveteria. Nela, não há mesas e cadeiras ou infinitos sabores de sorvete decorados com frutas exóticas. Há apenas uma vitrine com 12 tipos da delícia gelada— os quais variam a cada dia. Até agora, os meus favoritos foram damasco e maçã. São impressionantes a consistência cremosa e o gosto puro da fruta dos sorbets.
Dos com leite, amei o de café, que sempre foi meu sabor favorito, mas ultimamente vinha me decepcionando por ser oferecido por muitas sorveterias apenas nas variações cappuccino ou mocha, doces demais. Na Eislabor, também são excelentes o tradicional sorvete de baunilha, da variedade Taiti, e o inédito para mim de abacate. Dos sorbets, ainda provei laranja com hortelã e Heidelbeer, uma espécie de mirtilo.
Estou torcendo para das próximas vezes encontrar sabores como romã, figo, Spekulatius ou caipirinha, que também fazem parte do catálogo da Eislabor. Dá para ver no site da sorveteria quais variações são oferecidas no dia em cada uma das duas unidades em Bonn.
Mas afinal, por que o sorvete do pequeno laboratório é tão especial? Há tantas sorveterias de italianos na Alemanha, que deveriam ser excelentes considerando a fama das gelaterie. Eu mesma já provei várias sorveterias italianas, em terras alemãs ou italianas, mas a Eislabor tem algo de especial.
A diferença talvez seja que na Eislabor só entram ingredientes frescos e naturais, nada de corantes ou aromatizantes artificiais. A sorveteria tem na porta o selo Slow Food, o que significa que a produção se baseia em três princípios: boa (comida de qualidade, saborosa e saudável), limpa (não prejudica o meio ambiente) e justa (preços acessíveis para o consumidor e condições e salário justos para os produtores).
De nada valeria tal filosofia se o sorvete não fosse realmente bom e barato — de 1 a 1,30 euro a bola, dependendo do sabor. Não é à toa que o pequeno lugar atrai tanta gente — que não se importa de sentar em bancos improvisados do outro lado da rua ou aguardar na longa fila — e foi eleito a melhor sorveteria da Alemanha.
Origens do sorvete
Como curiosidade, eis um trecho do meu livro Ao gosto de Veneza sobre a história do sorvete:
“Uma espécie de sorbet — sorvete feito unicamente com suco de frutas e açúcar — já era apreciada pelos romanos e na Europa Setentrional em 500 a.C., misturando-se neve ao vinho. Mas foram os chineses, por volta de 500 d.C., que ‘encontraram uma maneira de conservar os sucos de frutas endurecidos, numa temperatura próxima a 0°C, com o auxílio das propriedades gelatinosas de algas marinhas’, afirma Maria Lucia Gomensoro no Pequeno Dicionário de Gastronomia.
A técnica foi levada à Pérsia e daí para os árabes, que a introduziram na Sicília, no século 15. A mistura difundiu-se, então, na França e pelo resto da Europa. Dois séculos mais tarde, os sicilianos começaram a misturar leite e creme de leite ao gelado e, nos anos 1700, nasceria em Palermo a primeira sorveteira comercial.”
Curiosamente, hoje países frios, como Finlândia, Suécia e Alemanha, estão entre os maiores consumidores de sorvete do mundo.