O melhor sorvete da Alemanha

6 Set

Foto: Luisa Frey

Estes dias, pulou na minha timeline do Facebook o ranking das melhores sorveterias da Alemanha, segundo usuários do Tripadvisor. Para minha surpresa, o local favorito do público fica pertinho de casa: a Eislabor, em Bonn. Eu já conhecia a sorveteria e sua reputação, mas o prêmio e os dias de calor me estimularam a visitar o pequeno “laboratório do sorvete”, como diz o nome em alemão, várias vezes nas últimas semanas.

Num sábado de sol, a fila começava a vários metros da entrada da sorveteria. Nela, não há mesas e cadeiras ou infinitos sabores de sorvete decorados com frutas exóticas. Há apenas uma vitrine com 12 tipos da delícia gelada— os quais variam a cada dia. Até agora, os meus favoritos foram damasco e maçã. São impressionantes a consistência cremosa e o gosto puro da fruta dos sorbets.

Dos com leite, amei o de café, que sempre foi meu sabor favorito, mas ultimamente vinha me decepcionando por ser oferecido por muitas sorveterias apenas nas variações cappuccino ou mocha, doces demais. Na Eislabor, também são excelentes o tradicional sorvete de baunilha, da variedade Taiti, e o inédito para mim de abacate. Dos sorbets, ainda provei laranja com hortelã e Heidelbeer, uma espécie de mirtilo.

Foto: Luisa Frey

Estou torcendo para das próximas vezes encontrar sabores como romã, figo, Spekulatius ou caipirinha, que também fazem parte do catálogo da Eislabor. Dá para ver no site da sorveteria quais variações são oferecidas no dia em cada uma das duas unidades em Bonn.

Mas afinal, por que o sorvete do pequeno laboratório é tão especial? Há tantas sorveterias de italianos na Alemanha, que deveriam ser excelentes considerando a fama das gelaterie. Eu mesma já provei várias sorveterias italianas, em terras alemãs ou italianas, mas a Eislabor tem algo de especial.

A diferença talvez seja que na Eislabor só entram ingredientes frescos e naturais, nada de corantes ou aromatizantes artificiais. A sorveteria tem na porta o selo Slow Food, o que significa que a produção se baseia em três princípios: boa (comida de qualidade, saborosa e saudável), limpa (não prejudica o meio ambiente) e justa (preços acessíveis para o consumidor e condições e salário justos para os produtores).

Foto: Luisa Frey De nada valeria tal filosofia se o sorvete não fosse realmente bom e barato — de 1 a 1,30 euro a bola, dependendo do sabor. Não é à toa que o pequeno lugar atrai tanta gente — que não se importa de sentar em bancos improvisados do outro lado da rua ou aguardar na longa fila — e foi eleito a melhor sorveteria da Alemanha.

Origens do sorvete

Como curiosidade, eis um trecho do meu livro Ao gosto de Veneza sobre a história do sorvete:

“Uma espécie de sorbet — sorvete feito unicamente com suco de frutas e açúcar — já era apreciada pelos romanos e na Europa Setentrional em 500 a.C., misturando-se neve ao vinho. Mas foram os chineses, por volta de 500 d.C., que ‘encontraram uma maneira de conservar os sucos de frutas endurecidos, numa temperatura próxima a 0°C, com o auxílio das propriedades gelatinosas de algas marinhas’, afirma Maria Lucia Gomensoro no Pequeno Dicionário de Gastronomia.

A técnica foi levada à Pérsia e daí para os árabes, que a introduziram na Sicília, no século 15. A mistura difundiu-se, então, na França e pelo resto da Europa. Dois séculos mais tarde, os sicilianos começaram a misturar leite e creme de leite ao gelado e, nos anos 1700, nasceria em Palermo a primeira sorveteira comercial.”

Curiosamente, hoje países frios, como Finlândia, Suécia e Alemanha, estão entre os maiores consumidores de sorvete do mundo.

Strawberry Banana Bread

27 Ago

Foto: Luisa FreySempre que volto à cozinha depois de um tempo longe dela, excluindo as saladinhas e macarronadas do dia a dia, me lembro de como colocar a mão na massa me faz bem. Fazer bolos e biscoitos é uma verdadeira terapia para mim.

Foi com eles que comecei a me aventurar no universo da culinária, por volta dos 12 anos de idade. Primeiro vieram os bolos de caixinha, e aos poucos fui explorando receitas de livros e de família, como os biscoitinhos de Natal da minha vó, os quais eu ajudava a preparar desde pequena.

Desta vez, tudo começou com duas bananas maduras e morangos na geladeira e com um banana bread que pulou na minha timeline do Instagram. Fui, então, buscar uma receita que usasse os ingredientes que eu tinha em casa e acabei adaptando uma de muffin.

O bolo levou um pouco mais de tempo para assar do que os muffins, mas ficou ótimo. Fofinho e bem leve. O gosto de banana predominou, e talvez da próxima vez eu coloque mais morangos, gotas de chocolate ou nozes. Para quem gosta de canela, acho que também poderia colocar um pouco mais. Já aprendi que cozinha é assim mesmo: quanto mais prática, maior a capacidade de improvisar e melhor o cozinheiro.

Strawberry Banana Bread

Ingredientes:

  • 1/2 xícara (cerca de 110 g) de manteiga sem sal, derretida
  • 2 ovos grandes batidos
  • 1 colher de chá de essência de baunilha teaspoon
  • 2 bananas grandes amassadas
  • 1 xícara de morangos picados
  • 2 1/4 xícaras de farinha de trigo
  • 3/4 de xícara de açúcar (a receita original indica mascavo)
  • 1 1/2 colher de chá de fermento em pó
  • 1/4 colher de chá de bicarbonato de sódio
  • 1 colher de chá de canela em pó
  • 1/2 colher de chá de sal

Modo de preparo:

Pré-aqueça o forno a 180 graus Celsius. Derreta a manteiga e deixe esfriar um pouco. Numa tigela, misture os ovos, a essência de baunilha e as bananas amassadas. Acrescente a manteiga e misture. Em outra tigela, misture a farinha, o açúcar, o fermento e o bicarbonato peneirados, a canela e o sal. Acrescente com cuidado os morangos, certificando-se de que ficam cobertos de farinha, o que ajuda a impedir que eles afundem na massa. Acrescente os ingredientes líquidos aos secos e misture somente até que a massa esteja homogênea. Deposite numa fôrma de pão untada e enfarinha ou forradas com papel-manteiga. Ou, se preferir, em 12 fôrminhas de muffin. Asse até que um palito enfiado no centro saia seco. No caso do bolo, para mim levou uns 45 minutos. Deixe esfriar um pouco e desenforme.

Bolo saudável e sustentável

12 Abr

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Apfelstrudel, torta (especialmente a coberta, do tipo americana, que minha mãe faz), crumble, cuca ou bolo. Adoro doces com maçã. Estes dias me deu vontade de cozinhar algo com a fruta e encontrei uma receita na internet bem interessante: um bolo que, além de não levar nem manteiga nem óleo, aproveita as cascas de maçã.

Nos comentários da receita, todo mundo elogiava, dizendo que era incrível o quão fofo o bolo fica mesmo sem manteiga. Também segui dicas para substituir parte da farinha por aveia (coloquei meia xícara, na hora de bater no liquidificador) e parte do açúcar por açúcar mascavo, deixando o bolo ainda mais saudável.

Em vez de irem para o lixo, as cascas de maçã são batidas no liquidificador com os ovos e o açúcar, e é incrível como nem sua consistência nem sua cor vermelha se identificam depois na massa. E como todo bom doce que leva maçã, não poderia faltar canela – e eu caprichei na dose.

Super simples de fazer, o bolo ficou delicioso e muito leve. Ótimo tanto quentinho quanto frio no dia seguinte. Segue a receita, que já entrou para o caderno das favoritas.

Bolo de maçã com cascaIMG_20150406_180348

Ingredientes:

– 4 maçãs
– 2 xícaras de farinha de trigo
– 2 xícaras de açúcar
– 3 ovos
– 1 colher (sopa) de fermento químico em pó
– canela a gosto

Modo de preparo:

Descasque as maçãs e corte-as em cubinhos. Reserve com um pouco de canela e açúcar. Bata no liquidificador os ovos, as cascas das maçãs e o açúcar (coloquei meia xícara de mascavo e apenas uma do comum).

Numa tigela, coloque a farinha (usei meia xícara de aveia e uma e meia de farinha), o fermento e a mistura feita no liquidificador, juntamente com as maçãs picadas. Polvilhe com canela.

Coloque numa forma untada e enfarinhada e leve ao forno médio por 30 a 40 minutos.

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Cantuccini

29 Mar

IMG_20150214_082008Manteiga, baunilha, raspas de limão, amêndoas. Uma combinação infalível. Estes tempos testei uma receita clássica da Toscana: cantuccini. Molhados no chá, no café ou sequinhos mesmo, os biscoitos são simples e saborosos – assim como a culinária italiana em geral.

O nome do quitute deriva da palavra “canto” ou “cantellus”, que em latim significa pedaço ou fatia de pão. A massa é assada primeiro com o formato de pães compridos e achatados, que, depois de alguns minutos, são fatiados e devolvidos ao forno.

Segundo a Assocantuccini, a Associação de Produtores Toscanos de Cantuccini de Amêndoa, o biscoito surgiu na segunda metade do século 16, ainda sem conter amêndoas, e difundiu-se no século 18 em diversas variantes. No entanto, foi somente no século 20 que os biscoitos começaram a ser produzidos em toda a Toscana, em escala cada vez maior.

Apesar de típicos da Toscana, os cantuccini ou simplesmente cantucci também fazem parte do repertório do padeiro veneziano Giorgio Garbo. Entrevistei-o para meu livro Ao gosto de Veneza e ainda posso sentir o cheiro de seus quitutes pairando por entre as casinhas coloridas da ilhota de Burano. Sua estratégia é preparar os biscoitos nas horas de maior movimento. “Os turistas vêm à tarde e, se sentem o aroma do produto, é mais fácil que tenham vontade de mangiare un biscottino“, me disse.

Aliás, o método de assar os cantuccini duas vezes, como um grande pão e depois em fatias, remete à origem da própria palavra biscotto (bis=duas vezes; cotto=cozido). O resultado é crocante, o que faz dos cantuccini ideais para serem degustados como sobremesa, molhados em vin santo – vinho doce típico da Toscana.

Também há receitas de sobremesas do tipo pavê que levam cantuccini. Uma vez comi uma com mascarpone, amaretto e maçã que estava uma delícia. Aqui em casa, comemos a maior parte da fornada pura mesmo, e cada vez que a lata era aberta, ficava difícil pegar um só.

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Segue a receita que usei:

Ingredientes (para 40 biscoitos):

– 100g de amêndoas
– 250g de farinha de trigo
– 1 colher de chá de fermento em pó
– 150g de açúcar
– 1 pacotinho ou 1 colher de sopa de açúcar de baunilha
– 1 colher de chá de raspas de limão
– 1 pitada de sal
– 2 ovos
– 100 g de manteiga

Modo de preparo:

Se as amêndoas vierem com casca, colocá-las numa tigela e despejar água fervente por cima. A casca se soltará, então, facilmente (adorei!).

Misturar numa tigela a farinha, o fermento, o açúcar, o açúcar de baunilha, as raspas de limão, o sal e os ovos. Cortar a manteiga em cubos e acrescentar à mistura, junto com as amêndoas. Misturar com as mãos até a massa ficar homogênea. Se estiver muito grudenta, acrescente um pouco mais de farinha.

Pré-aquecer o forno a 180 ºC. Sobre uma superfície enfarinhada, fazer quatro grandes rolos com a massa e achatá-los de leve. Colocar os rolos sobre uma forma forrada com papel manteiga. Assar por cerca de 15 minutos.

Deixar os rolos esfriarem um pouco e cortá-los em fatias com cerca de 1 cm de espessura. Retornar as fatias à forma e assar por mais 10 minutos.

Jantar medieval na Letônia

1 Mar

Nossa ida a Riga, capital da Letônia, foi bem inusitada – graças a uma oferta de voo barata. E nossa primeira noite na cidade, a noite do meu aniversário, também foi surpreendente. Depois de descer na parada de ônibus errada, tivemos que caminhar um pouco mais do que o previsto para chegar ao hotel, no coração do centro histórico. Ainda estávamos meio perdidos pelas ruazinhas de paralelepípedo, quando passamos por uma casa de esquina. Pela janela, vimos um homem carrancudo com o rosto iluminado por velas.

Então, reparamos que a porta era enorme e de madeira e que, ao lado da casa, havia uma ruela com uma charrete, barris e bandeiras com brasões. Levamos um susto quando a porta rangeu, e o homem carrancudo nos encarou, como quem diz: “O que é que vocês estão olhando?”

Nosso hotel ficava a poucos passos dali, e ao pedirmos dicas de restaurantes para a recepcionista, logo sacamos a qual local ela estava se referindo ao falar num restaurante medieval. E lá fomos nós para uma comemoração de aniversário bem diferente.

No fim, aquilo não era um lugar de reunião de uma seita medieval, e o grandão vestido a caráter na porta era só o “host” do restaurante, chamado Rozengrals. Dessa vez, ele nos espiou pela portinhola antes de abrir a porta. Descemos as escadas rumo ao porão, onde uma atendente também com roupas medievais disse: “Mesa para dois? Go with the lady.”

Depois de caminharmos quase agachados por um túnel, chegamos a um salão abobadado com as paredes de pedra, iluminado quase que somente por velas e ao som de músicas medievais. Sentamos num banco com almofadas de veludo, e logo veio o garçom, que infelizmente falava bem inglês e não arriscou nenhuma palavra da Idade Média. Pedimos cerveja de mel, não filtrada, que veio numa linda taça de vidro, semelhante a um cálice. Gostei muito da suave doçura do mel, sem ser enjoativa.

Logo chegaram duas trouxinhas de pano com pães caseiros dentro. Eram fresquinhos, redondinhos e com linhaça, e eu não conseguia parar de comê-los antes de a comida chegar.

Estávamos encantados com o ambiente e com as descrições no cardápio e demoramos a nos decidir. Ainda bem que sempre concordamos em pedir dois pratos e dividirmos, porque assim posso provar duas coisas diferentes.

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Uma das escolhas foi vegetariana: abóbora assada com cogumelos e sour cream. A descrição no cardápio diz que, no século 12, de acordo com a “Lei de São Benedito”, todos os monges, com exceção dos muito doentes, eram proibidos de comer “a carne de animais com quatro patas”, mas vegetais eram sempre bem-vindos.

Como amo abóbora, sou suspeita para julgar o prato. A casca estava crocante, temperada com sal grosso; os cogumelos ao lado eram de um tipo que eu não conhecia, brancos e carnudos, e estavam bem temperados com alho. Um ramo de salsinha fresca e o sour cream formaram uma deliciosa combinação com a abóbora adocicada.

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A segunda pedida foi um ensopado de coelho com ameixas e damascos secos e pinoli. No cardápio não dizia, mas veio com lentilhas, trigo cozido e uma grande cabeça de alho assado, que não nos arriscamos a comer. Segundo o cardápio, a receita foi servida no casamento de Isabel da Baviera, no século 14, cuja festa foi “deslumbrante”.

O Celso não achou o sabor tão deslumbrante assim, mas eu achei bom. Gosto bastante de frutas secas e pinoli, e a combinação ficou interessante. O prato era grande, e não demos conta de comer tudo.

Como a fome já tinha acabado, mas eu queria muito uma sobremesa para adoçar o aniversário e prolongar nossa noite ali, pegamos a opção mais leve: sorbet de morango – “famosa receita do século 15 chamada de ‘Elizabeth delicada'”, diz o cardápio. Estava uma delícia, leve e refrescante, com folhas de menta como guarnição. Vamos ter que voltar para provar a torta de abóbora ou o sorvete de pistache sobre gelo.

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Ao retornar de Riga, descobri que o restaurante é um ponto turístico famoso. No Trip Advisor, a maioria das pessoas o avalia como excelente, falando num “banquete medieval com sabor único” e “em comida e ambiente excelentes”. Já uma crítica recente diz que o restaurante não merece todo o crédito dado a ele, chamando o ambiente e a comida de sem graça.

Como não havíamos lido nada a respeito, não tínhamos expectativa alguma, e a noite nos surpreendeu positivamente. Seja a experiência autêntica ou não, o que importa é que, para nós, o restaurante cumpriu sua proposta: realmente nos sentimos transportados para a Idade Média.

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Bolo de cenoura e amor

31 Jan

IMG_20150119_074714_editPara mim, cozinhar é uma maneira de me expressar, assim como escrever. Além de ser uma espécie de terapia, também é uma forma de demonstrar carinho. Adoro deixar alguém feliz e lambendo os beiços com algo que preparo. Desde adolescente, eu gostava de presentear amigos com bolachinhas caseiras, fazer um jantar para a família ou bolos de aniversário.

É ainda mais gostoso quando essa demonstração de afeto vem acompanhada da memória gustativa. Daquela sensação de estar comendo algo que te traz conforto, que lembra a infância, algum momento ou uma pessoa especial.

Para o Celso, bolo de cenoura é sinônimo de comfort food, de gosto de casa. Acho que antes de estarmos juntos, eu só o tinha feito uma vez, mas agora estou me aprimorando. Como não curto muito o gosto de óleo que se costuma usar para esse bolo, encontrei uma receita que o substitui por manteiga. E achei que ficou bem melhor.

Não poderia haver ocasião melhor do que o aniversário do Celso para me aventurar na receita novamente. Coloquei um toque de canela, escolhi fazer uma cobertura de chocolate amargo e usei amêndoas para decorar. A sujeira na cozinha foi recompensada pelo sorriso dele ao abrir a caixa na qual escondi o bolo – afinal, não deixa de ser um presente. E que gostoso vê-lo saborear e elogiar o quitute.

Modéstia à parte, ficou mesmo uma delícia. E não foi só o aniversariante que se deu bem; eu mesma degustei o bolo até o último pedaço.IMG_20150119_074944

Bolo de cenoura com manteiga

Ingredientes:

– 2 1/2 xícaras de farinha de trigo
– 1 colher de sopa de fermento em pó
– 1 1/2 xícara de açúcar
– 4 ovos
– 1/2 xícara de manteiga derretida
– 3 cenouras grandes
– 200 g de chocolate meio amargo

Modo de preparo:

Bata no liquidificador a manteiga, os ovos, as cenouras picadas em pequenos cubos e o açúcar. Coloque numa tigela, acrescente a farinha e o fermento (peneirado) e misture bem. Se quiser, acrescente uma colher de chá de canela. Coloque a massa numa forma untada e enfarinhada de 23 centímetros de diâmetro. Asse por cerca de 40 minutos em forno médio (180°C), até que um palito ou garfo saia seco. Para a calda, quebre o chocolate e derreta-o no banho-maria. Passe sobre o bolo ainda quente.

Se preferir, faça uma calda de brigadeiro mole. Outra opção é esquentar em fogo baixo açúcar (4 colheres de sopa), chocolate em pó (4 colheres de sopa), manteiga (1 colher de sopa) e água (4 colheres de sopa) até ganhar consistência, fazer furos com o garfo e derramar sobre o bolo.

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Me dá um beliscão?

8 Nov

Quanto será que o que comemos em casa quando criança, o que nossos pais apreciam, influencia nosso gosto? Não posso deixar de pensar na minha mãe quando como goiabada e, mais ainda, biscoitinhos de goiabada. Ai que gostinho de Brasil e de casa… Desde a adolescência, fazer bolos e bolachas é um passatempo para mim. E hoje foi dia de experimentar uma nova receita: beliscão de goiabada.

A inspiração veio de um pote do doce cascão trazido de presente de uma amiga mineira e de uma fornada feita pela minha mãe estes dias, do outro lado do Atlântico. Como hoje as receitas não são mais transmitidas somente de geração para geração – apesar de que já fiz questão de aprender umas especialidades das minhas avós -, desta vez, a receita passada de mãe para filha veio da internet.

É bastante simples fazer esse quitute. A única dificuldade é fazer os biscoitos bonitinhos e uniformes! Na primeira fornada, saíram beliscões maiores; na segunda, menores e mais delicados. Mas até que o conjunto não ficou feio. E o gosto, então… Difícil comer um só! Uma ótima comfort food para um fim de semana frio, este beliscão não dói nadinha.

Ingredientes:

– 3 colheres de sopa de manteiga
– 3 ovos
– 6 colheres de sopa de açúcar
– 1 colher de chá de fermento em pó
– farinha até dar o ponto de abrir a massa
– goiabada

1. Misturar todos os ingredientes com as mãos. Pode parecer difícil assim, sem especificar a quantidade de farinha, mas é fácil encontrar o ponto. Eu fiz apenas um terço da receita, e rendeu cerca de 30 biscoitos.

2. Abrir a massa com o rolo sobre uma superfície enfarinhada.

3. Cortar quadrados com a faca (cerca de 2 cm x 2 cm) e dispor sobre uma assadeira untada e enfarinhada ou forrada com papel manteiga.

4. Colocar um pedacinho de goiabada ou um pouquinho com uma colher – se for cremosa, como a que usei – e unir duas das pontas dos quadrados. é importante colá-las bem uma na outra, senão elas abrem.IMG_20141108_183956

5. Assar por cerca de 15 minutos em forno médio (180ºC). 

E voilà!

Obrigada, mãe! Que bom gosto!

 

Almoço de domingo

12 Out

Foto: Luisa FreyQue coisa engraçada estar longe de casa, mas conseguir sentir o gosto de um almoço de domingo em família – feito por você. Hoje preparei uma das especialidades do meu pai: o Szegediner Gulasch, carinhosamente apelidado por ele de “Zéguedinha”.

Trata-se de um Gulasch (na grafia em alemão) incrementado com chucrute. Um prato pesado e ótimo para um dia frio.

As origens da iguaria húngara – também muito popular em países do leste e do centro da Europa, incluindo a Alemanha – remontam ao século 9°. Antes de partir com seus rebanhos, pastores húngaros faziam um guisado com pedaços de carne cozidos lentamente, cebola e outros temperos.

O preparado era, então, colocado para secar no sol e colocado em sacos feitos de estômago de ovelha. Ui! Pelo menos é o que diz a Encyclopædia Britannica. Quando sentiam fome no caminho, os pastores adicionavam água a uma porção do guisado e o requentavam. Prático, não? Uma espécie de precursor das sopas enlatadas.

Foto; Luisa FreyHoje, ao pensarmos num Gulyás (em húngaro) – ou goulash, em inglês –, logo nos vem à cabeça a páprica. O ingrediente que dá ao prato sua típica cor alaranjada passou a fazer parte da receita no século 18.

A versão clássica do Gulyás se parece mais com uma sopa – que na Alemanha é conhecida como Gulaschsuppe – e leva cubos de carne bovina ou de carneiro, alho, sementes de cominho, tomates, pimentão e batata.

Para os alemães, o Gulasch equivale ao que os húngaros chamam de Pörkölt ou Paprikás – que são mais densos do que o Gulyás. Enquanto o primeiro leva carne, páprica e vegetais , o segundo, leva também creme de leite – e, ao contrário do que o nome sugere, não inclui mais páprica do que as outras versões do prato.

O creme de leite também é essencial – e faz lembrar um estrogonofe – ao “Zéguedinha” (para os íntimos). Em húngaro, a receita com chucrute chama-se Székely gulyás. Seria uma homenagem ao escritor e jornalista József Székely (1825–1895), que teria inspirado a sua criação, segundo o famoso cozinheiro húngaro Gundel Károly, que viveu até meados do século 20.

Enfim, o Szegediner Gulasch é hoje muito popular na Europa e, assim, chegou à minha família por suas raízes germânicas. Meu pai aprendeu a preparar o prato com a tia-avó, mas deu a ele seu toque especial: o catchup. O condimento faz parte de quase todos os molhos que ele prepara – e os deixa incrivelmente bons! Também não pode faltar um pouco de vinho branco. O resto da receita eu mantenho como segredo de família, mas deixo aqui uma alternativa publicada no The New York Times.

Foto: Luisa FreyO acompanhamento pode ser batata cozida, purê ou Spätzle – massa típica da Alemanha, algo entre macarrão e nhoque. Para faclitar a vida dos cozinheiros de fim de semana, há uma invenção incrível que adquiri há algum tempo: o Spätzle Shaker! Basta colocar água, ovos, farinha e sal na altura mostrada no copo, chacoalhar, e espremer (através da tampa com furinhos) sobre a panela com água fervente. Adoro!

A família não estava toda presente, mas pelo menos foi um domingo com o Zéguedinha entre nós.

Crumble, crumble, crumble!

12 Ago

Dizem que a culinária britânica não é grande coisa, mas se considerada apenas uma de suas especialidades, é preciso reconhecer que ela tem valor sim. E que valor! Quentinho, crocante, suculento, doce e azedo na medida certa. Foi assim que o crumble me conquistou. E já virou a sobremesa favorita aqui em casa.

De maçã com morango, de banana com morango, de morango com maçã, de banana com pêssego ou só de maçã – todas as variações testadas ficaram divinas! Ainda falta preparar um crumble de ruibarbo, que já experimentei e aprovei na Queen of Tarts, em Dublin.

Segundo a revista alemã Essen & Trinken, o crumble nasceu na Inglaterra durante a Segunda Guerra Mundial. Farinha, açúcar e manteiga eram escassas durante o conflito, e, por isso, surgiu a ideia de abandonar a base da torta e a massa do bolo e cobrir a fruta quente apenas com uma farofa.

A receita da minha farofa foi ensinada pela minha avó gaúcha, especialista nos pedacinhos crocantes que cobrem suas cucas. Além de manteiga, farinha e açúcar, ela leva canela e baunilha. Há receitas que incluem aveia ou nozes.

Para uma travessa média, faço a farofa com duas colheres de sopa cheias de farinha de trigo, uma colher e meia de sopa de açúcar, uma colher e meia de sopa de manteiga, meia colher de chá de canela e uma colher de chá de açúcar baunilha. Basta misturar os ingredientes com as mãos. A massa fica com consistência quebradiça e pode ser facilmente despedaçada sobre as frutas. Cuidado para não errar na quantidade de manteiga, que pode fazer sua farofa derreter (já aconteceu comigo!).

Para as frutas, basta usar o que tem em casa e, muitas vezes, salvar as que já estão maduras demais para serem comidas frescas. Eu costumo assar o crumble no forno elétrico por cerca de 20 minutos, com o calor vindo de cima e de baixo. Assim, as frutas cozinham – soltando água e formando uma calda, mas mantendo-se um pouco firmes –, enquanto a farofa doura.

Adoro sobremesas que unem quente e frio, como petit gateau com sorvete ou apfelstrudel com sorvete, e talvez esse seja um dos motivos por que me apaixonei pelo crumble. Ele fica delicioso com sorvete, creme ou calda de baunilha. Uma sobremesa leve e pouco doce, que sempre cai bem. E aqui em casa, confesso que já até substituiu o jantar.

Já que a sobremesa é uma especialidade britânica, aqui vão mais duas receitas do inglês Jamie Oliver, uma de crumble de maçã, com aveia, e outra do que ele chama do melhor crumble de frutas de todos os tempos, com gengibre e pera. Quero provar!

Meu crumble de maçã

Strawberry fields forever

2 Jun

Foto: Celso de Castro Rondon Filho

Há tempos eu sonhava em colher morangos. Quando criança, lembro de uma amiga contar que tinha vindo visitar a avó na Alemanha, e a colheita fez parte da programação das férias. Desde que mudei para o país, há três anos, eu queria ter essa experiência. Finalmente consegui agendar o programa durante a temporada da fruta – e foi ainda melhor do que eu imaginava!

No primeiro domingo de junho, ensolarado e com temperatura amena, levantamos cedinho e preparamos nossa vasilha. O destino escolhido para a “aventura” foi o Burg Niederpleis, a cerca de 15 quilômetros do centro de Bonn, em Sankt Augustin.

A poucos passos de uma estradinha, passada a plantação de pinheiros que crescem rumo ao Natal, vê-se a casa da fazenda, onde é possível comprar os produtos locais fresquinhos. E atrás da casa, estava o que procurávamos: um campo de morangos impecável.

Primeiro, pesamos nossa vasilha vazia numa barraquinha em formato de morango gigante, onde se vende a fruta para os não tão entusiastas da colheita. Depois, um funcionário simpático nos recebeu à beira da plantação e, como tudo na Alemanha é muito organizado, nos disse em qual fileira deveríamos colher nossos morangos.

Um mais lindo do que o outro, eles pendiam dos arbustos rasteiros. Todos inteirinhos, vermelhíssimos e deliciosamente doces – afinal, quem resiste a provar um ali na hora?

De início, havia apenas uma avó com um netinho, que se empolgou ao encontrar “o maior morango do mundo”. Logo foram chegando mais famílias, com suas vasilhas e baldes. Muitas têm o costume de preparar geleias para o restante do ano.

Decidi limitar-me a um pote pequeno – acho que já me arrependi – e levei cerca de um quilo, pela bagatela de pouco mais de três euros. E, já que estava ali, por que não comprar aspargos fresquinhos, o outro destaque desta temporada? Um maço de aspargos não selecionados – não tão grossos e alguns tortinhos – custa apenas dois euros. A vendedora perguntou se eu não gostaria de levar dois, um por pessoa, mas achei que seria demais. Mas quando eles estavam cozidos e envoltos por presunto deixaram um gostinho de quero mais. Na loja da fazenda, meu trabalho na cozinha havia sido facilitado por uma máquina descascadora de aspargos, que lembra um lavarrápido.

Mas o destaque do dia foram mesmo os morangos, os mais doces que já comi. Nem tive coragem de cozinhá-los ou acrescentar açúcar. Mas com iogurte de baunilha ficaram divinos! Acho que terei de voltar à fazenda ou descobrir outra da região antes do fim desta temporada, que vai de abril a fim de junho.

Além do Burg Niederpleis, muitas fazendas próximas às cidades oferecem a possibilidade de “selbstpflücken” (“colha você mesmo”) aqui na Alemanha, o que torna a experiência de comer morangos ainda mais prazerosa do que de costume.

Foto: Luisa FreyFoto: Luisa FreyFoto: Luisa FreyFoto: Luisa FreyFoto: Luisa Frey